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Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs): O Que Você Precisa Saber

Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs): O Que Você Precisa Saber

10/10/2025 - 13:54
Felipe Moraes
Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs): O Que Você Precisa Saber

Nos últimos anos, o mundo testemunhou uma revolução na forma como consumimos serviços financeiros. Com o avanço da tecnologia, governos e instituições buscam soluções que tornem as transações mais ágeis, seguras e inclusivas. As Moedas Digitais de Bancos Centrais, ou CBDCs, emergem nesse cenário como uma proposta capaz de transformar radicalmente o conceito de dinheiro.

Este artigo oferece uma visão abrangente e detalhada sobre o tema, abordando definições, motivações, características, vantagens, riscos, exemplos práticos e perspectivas futuras.

O que são as CBDCs?

CBDC, ou Central Bank Digital Currency, é a representação digital de uma moeda fiduciária nacional, emitida e garantida pelo Banco Central. Diferentemente de criptomoedas privadas, as CBDCs são centralizadas, reguladas e consideradas passivos oficiais, funcionando como meio de pagamento, reserva de valor e unidade de conta.

Ao contrário dos stablecoins, que dependem de garantias de ativos ou algoritmos privados, uma CBDC tem seu valor lastreado diretamente pelas reservas do Estado, oferecendo maior confiabilidade para transações de alto valor e larga escala.

Motivações e Modelos de Operação

As principais motivações para a criação das CBDCs estão ligadas à necessidade de modernizar o sistema de pagamentos e fortalecer a inclusão financeira em regiões remotas ou com baixa bancarização.

Além da conveniência, as autoridades monetárias buscam reduzir custos operacionais, aprimorar a segurança e evitar riscos associados a moedas digitais privadas.

  • Baseadas em contas: centralizadas em cadastro mantido pelo Banco Central, com registro direto de saldos.
  • Baseadas em tokens: utilizam tecnologias blockchain ou DLT para transações seguras, funcionando como fichas digitais transferíveis.

Em ambos os modelos, a oferta monetária é controlada pelo Banco Central, que define volumes e políticas de emissão conforme suas metas econômicas.

Vantagens das CBDCs

As CBDCs apresentam diversos benefícios que vão além da simples digitalização do papel-moeda:

  • Segurança das transações: registro único e rastreamento seguro, reduzindo fraudes e lavagem de dinheiro.
  • Política monetária mais efetiva: possibilidade de aplicar medidas como juros negativos diretamente.
  • Pagamentos internacionais mais rápidos e baratos: elimina intermediários e acelera liquidações.
  • Inclusão financeira: Inclusão financeira ampliada a populações não bancarizadas, com acesso 24 horas.
  • Estímulo à inovação: Estímulo à inovação e novos serviços no ecossistema financeiro.

Em economias emergentes, pequenos comerciantes podem realizar micropagamentos sem depender de infraestrutura bancária tradicional, fomentando microempreendedorismo.

Desafios e Riscos

Apesar do potencial, as CBDCs também apresentam riscos que devem ser cuidadosamente avaliados:

  • Centralização excessiva do controle estatal: o emissor pode censurar ou reverter operações.
  • Privacidade financeira amplamente comprometida: exige tecnologias avançadas de anonimização e criptografia.
  • Vulnerabilidade cibernética a ataques sofisticados: necessidade de resiliência contra invasões.
  • Integração complexa com sistemas tradicionais: compatibilidade com bancos e fintechs pode ser desafiadora.
  • Aceitação pública ainda incerta: barreiras culturais e de confiança em instituições.

Outro ponto sensível é o impacto na intermediação bancária tradicional, pois depósitos poderiam migrar diretamente para reservas do Banco Central, alterando a dinâmica de crédito.

Regulação no Brasil e no Cenário Internacional

No Brasil, a emissão de CBDCs está respaldada pela Lei Complementar nº 179/2021 e pela Lei nº 4.595/1964. Mais recentemente, a Lei 14.478/22 e o Decreto 11.563/2023 estabeleceram normas para proteção ao consumidor e adequação ao LGPD.

Regulamentações específicas incluem requisitos de KYC (Conheça Seu Cliente), AML (Prevenção à Lavagem de Dinheiro) e definição de prazos para adaptação de instituições financeiras.

Em âmbito internacional, não há um padrão único. Organismos como FMI, Banco de Compensações Internacionais (BIS) e fóruns do G20 trabalham em recomendações que garantam interoperabilidade, combate a ilícitos e estabilidade macroeconômica.

Exemplos Globais e o Real Digital

Vários países avançam em diferentes estágios de desenvolvimento de CBDCs:

Nas Bahamas, o Sand Dollar já opera em todo o território, oferecendo serviços financeiros a ilhas remotas. Na China, o e-CNY é testado em grandes cidades para pagamentos de transporte e subsídios.

O Brasil, por sua vez, conduz um projeto-piloto em fase de testes do Real Digital, avaliando usos em transferências interbancárias e comércio eletrônico com foco em rastreabilidade, eficiência e inclusão.

Esses exemplos mostram abordagens diversas, desde sistemas totalmente centralizados até híbridos com participação de intermediários.

Dados Relevantes e Projeções

Estima-se que mais de 100 países estejam atualmente envolvidos em etapas de estudo ou implementação de CBDCs. A expectativa é de que, até 2030, as transações digitais representem mais de 60% do volume monetário global.

Relatórios indicam que custos de transação podem cair entre 30% e 50%, especialmente em remessas internacionais, beneficiando migrantes e pequenas empresas.

Em situações de crise, uma moeda digital pode ser usada para transferir auxílio emergencial de forma imediata e direcionada, aumentando a agilidade da resposta governamental.

Polêmicas e Debates

O debate se concentra em equilibrar controle e liberdade. De um lado, há preocupação com vigilância estatal excessiva e possível uso político indevido. Do outro, economistas argumentam que o maior monitoramento pode reduzir crimes financeiros.

Outro ponto envolve a competição com o setor privado. Bancos comerciais e fintechs temem perder relevância se os cidadãos migrarem para wallets oficiais, impactando modelo de negócios baseado em intermediação.

Considerações Finais e Tendências

As CBDCs prometem redesenhar o futuro dos pagamentos, oferecendo pagamentos instantâneos e acessíveis e estimulando a inovação em serviços financeiros.

Para que essa transformação seja bem-sucedida, é fundamental um arcabouço regulatório transparente e colaborativo, envolvendo autoridades, setor privado e sociedade civil.

No horizonte, vemos o potencial de interoperabilidade global entre diferentes CBDCs, criando um ecossistema em que transferências entre países ocorram em segundos, sem barreiras técnicas ou regulatórias.

Fique atento aos próximos capítulos dessa história: a adoção de moedas digitais pelos bancos centrais será um dos pilares da economia digital do futuro.

Felipe Moraes

Sobre o Autor: Felipe Moraes

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